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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

ENREDO 1208: DRAG-SE: A ARTE DA TRANSFORMAÇÃO

DRAG-SE: A ARTE DA TRANSFORMAÇÃO





CARNAVAL 2017.1





Nome
Grêmio Recreativo Escola de Samba de Enredo Borboleta Transgênero
Cores
Rosa e azul
Símbolo
Borboleta Transgênero
Presidente/Carnavalesco
Cleiton Almeida
 E-mail
cleiton.falmeida04@gmail.com
Elementos
5 setores, 5 alegorias, 20 alas

Com o intuito de narrar a trajetória e a constante metamorfose da artista drag, o GRESE Borboleta Transgênero apresenta o enredo: "Drag-se: a arte da transformação". A partir de uma abordagem histórica e irreverente, o enredo retrata o percurso dessa categoria que vem em uma crescente de visibilidade, representatividade e relevância cultural. Partindo da origem no teatro, nossa escola viaja pelos purpurinados caminhos que essas artistas performáticas trilharam. Hoje, a cultura drag se espalha como glitter lançado ao vento, atingindo lugares que até então não passavam de um sonho colorido, desempenhando importante papel na construção de uma sociedade mais fluida, onde cada um desenvolve sua própria identidade.
Tendo em vista a diversidade de subcategorias existentes no gênero drag, como por exemplo “drag queen”, “drag king”, “drag queer”, entre outras, a agremiação opta por não utilizar especificações e cria a linha do enredo abordando todas as classes pelo que as uni. Com a utilização do termo “drag”, todas as que se sentirem parte dessa categoria são homenageadas, independente da vertente que trabalham.
Vista-se com a "make" da alma e venha se transformar!


"Prazer, eu sou arte, meu querido,
então pode me aplaudir de pé.
Represento esforço, tipo de talento,
cultivo respeito, cultura drag é missão.
Um salve a todas as montadas da nossa nação!"
"Dona" - Gloria Groove




HISTÓRICO
...

Até então, homem. Ele e o seu desejo de ser um outro sujeito.

Uma vida dentro de um corpo. Seu casulo particular. Superfície de expressão.

A metamorfose da identidade, do gênero, do sexo. Da própria espécie.

...

Expresse-se, bee!

...

Em época onde amapô não podia entrar em cena, os boyzinhos subiam no palco à caráter e mostravam para o que tinham vindo. Pouca gente sabe, mas as donzelas clássicas de Shakespeare não eram rachas.
E se só tinha boy no palco, era preciso fazer a diferenciação. Foi então que Shakespeare ordenou: "D-R-A-G!"-(se!).

A partir dessa origem, deu a louca na história das manas. Quando as rachas subiram no palco, as monas se reinventaram. Entrou muito plena, muito burlesca na modernidade, cativando o teatro com um tom caricato. De lá, foi direto para os bailes drag, onde se aproximou de um público mais LGBT. Mas o tempo fechou, o salto apertou e quase quebrou. As drags se esconderam da família tradicional e permaneceram em meia-luz.

Abrindo alas para a pós-modernidade, a Pop Art foi a precursora da popularização da cultura de massa. Porque o povão também é "Belo" e também faz "Arte"! As manas saíram da meia-luz para brilhar em busca de reconhecimento e valorização. Foi preciso botar a cara no sol para dizer que a arte performática era tendência. E muito além, as monas bateram cabelo e levantaram a bandeira atrás dos direitos de toda a classe que rompe com a heteronormatividade. Desafiaram as mordaças da ditadura para clamar pela liberdade de expressão, pelo direito de escolha e pelo poder de se vestir e ser como quiser. Kisses, Dzi! 
                     
E agora se prepara porque as bichas chegarão lacrando! Com o baphão do século 21, as drags elevaram suas carreiras a um novo patamar. Conquistaram o cenário musical do país, mostrando que aqui é close, babado e confusão. Não esperam o carnaval para arrasar, pois arrasam todo dia. É por isso que hoje você liga a TV, lá estão elas, chegando no estilo imperatriz. Fizeram-se respeitadas. E nem adianta ficar bolado, porque elas têm mais a oferecer. Têm muito talento, muito carisma, muita força de vontade, além de fortalecerem às quatro da madrugada. Aceita, elas são gostosas! Raaaan! Nesse espaço musical as coisas nunca são fáceis, é preciso respeitar e valorizar o trabalho e a arte das drags, porque consumação não é acué e não paga peruca! Vai segurando!
                       
Para o tempo presente/futuro, o ser drag alcança um novo estágio no campo da caracterização. A busca pela expressão feminina, pelo tom caricato, vai se findando gradativamente. As discussões sobre o ser humano, o masculino, o feminino, refletem em um movimento contrassexual que foge da representação do ser humano e vai ao encontro de uma arte não-binária. Surge um ser híbrido! É o nascimento de uma mona afrontosa e original, que viaja em sua intuição para dentro de si mesma em busca de transcrever em traços, formas e cores a essência da alma. A transformação fluida de uma drag que faz do seu casulo um reflexo do seu próprio interior. E mesmo assim não se faz estática, mas fluida.


Virá a ser o que irá sentir.

Seu corpo nada mais é do que expressão de arte.


Tá, meu bem?

VRAAAAHH!

Glo(Gay)ssário
Acué: dinheiro
Amapô/racha: mulher
Bapho: acontecimento estrondoso
Bee: homossexual
Botar a cara no sol: aparecer, ter atitude
Boy: garoto, menino, homem
Kisses: beijos
Lacrar: fazer bem feito
Mana/mona: homossexual
Vrah: barulho do leque



Bob The Drag Queen


JUSTIFICATIVA

1º setor: A origem clássica
A origem do termo “drag” é um pouco incerta, envolta de diferentes lendas que não possuem documentos que comprovem suas teses. Porém, há uma que é fortemente difundida e que as drags têm muito orgulho em recontar. Essa, então, é a mais aceita como real, pois dialoga com a história e reafirma o ato de travestir-se.
No teatro Elisabetano, onde começou a revolução na maneira de se ver o teatro ocidental, as personagens femininas eram interpretadas por jovens garotos entre 10 e 13 anos de idade. Para fazer a diferenciação na hora de descrever os papéis, Shakespeare, um dos maiores autores teatrais de todos os tempos, colocava a sigla DRAG (Dressed as girl) no rodapé da página. Em tradução livre para o português, significa “Vestido como garota”.
A partir disso, o ser “drag” desempenhou um trabalho importante na cena teatral, onde era plenamente aceito e respeitado pela sociedade da época.

2º setor: Nos palcos da modernidade
Na transição para o século XX, as configurações do teatro foram alteradas. As mulheres já tinham conquistado seu espaço no palco e a função originária da drag tinha perdido sua importância. Com isso, a categoria precisou se reinventar. A drag entrou na modernidade com sorriso largo, vestindo roupas exuberantes que parodiavam a alta moda, perucas com penteados exóticos e maquiagem exagerada. Ganhou um papel caricato, expressivo, burlesco, que exarcebava o feminino. Foi preciso caminhar pelo humor para manter-se no palco como um show cômico, não mais representativo como nos séculos passados.
Os bailes drag também foram importantes nesse período da história. Chamados de “Pansy Craze”, eram grandes festas em que a maioria dos homens iam vestidos de mulher. Foi então que a classe drag se alinhou com os interesses da comunidade LGBT. Os bailes tinham enfoque no glamour e estilo de vida drag, que com o passar dos anos exigia um certo investimento em termos de vestimenta, a fim de manter um alto padrão. Entretanto, em paralelo a isso, o movimento anti-homossexual ganhava destaque na mídia. 
Por volta da década de 40 e 50, o teatro perdeu espaço como entretenimento para o cinema e a televisão, e os Pansy Craze se escondiam cada vez mais da repressão da polícia, já que se tornavam cada vez mais tabu e ameaça à sociedade. Consequentemente, a drag enfrentou um período em que precisava se refugiar em lugares seguros do conservadorismo, para poder se montar apenas por satisfação pessoal, sem fins de entretenimento. Os poucos shows aconteciam em bares marginalizados.

3º setor: Brilhante e pós-moderna!
Em meados dos anos 60, o mundo sofreu grandes transformações. No campo das artes não foi diferente. O movimento chamado “Pop Art” deu início ao que viria a se chamar pós-modernidade. Questões como a crescente cultura de massa foram absorvidas pela arte, que discutia a “baixa cultura” e questionava a si mesma. Com isso, buscava-se também uma arte efêmera, que localizava-se no “entre”, no “ser” ou “não-ser”. Esses questionamentos desencadearam, entre outras, a arte performática.
Ser drag agora era arte! A drag voltou a brilhar, doravante, como artista performática. Ela possuía uma ampla gama de possibilidades para se comunicar com o público, seja como profissão ou hobbie, no cinema, televisão, teatro ou nos bares gays que começavam a surgir.
Contudo, a drag também foi importante na luta pelos direitos da comunidade LGBT. O ato de travestir-se ganhou um quê de manifestação política e social, uma forma de liberdade de expressão. Foi necessário enfrentar a sociedade para, aos poucos, ser aceita e respeitada. No Brasil, um dos exemplos mais notórios dessa luta foi o grupo andrógeno Dzi Croquette, que enfrentou a censura da ditadura militar ao se apresentar de vestido, salto alto e maquiagem. Os integrantes escandalizaram o regime militar com sua postura política e artística. Revolucionaram na luta contra o preconceito e são considerados os precursores do movimento drag no país.

4º setor: Closes contemporâneos
Com o advento do século 21, as drags conquistaram um espaço importante na sociedade. O meio musical é de grande relevância para a divulgação, propagação e reflexão de questões políticas da comunidade não-heteronormativa, principalmente homossexual. É uma forma de empoderamento e auto-afirmação. Com isso, as cantoras drags lançam músicas que caem no gosto popular. A visibilidade drag aumentou expressivamente, e se antes a televisão tinha tomado o espaço do teatro e colocado as drags fora do palco, elas se reinventaram mais uma vez e hoje têm seu espaço em programas televisivos, ganhando audiência e purpurinando na tela da TV.
Todo esse processo de midiatização da categoria drag é contemporâneo e notável, proporcionado em parte pelas modificações das gerações atuais da sociedade. Com muita luta, hoje o respeito e admiração pela arte drag é uma realidade difundida não só entre os gays, mas entre o público em geral. Elas provaram que são talentosas e que sua arte performática é carregada de responsabilidades políticas e sociais. Não se trata meramente de diversão, é um posto de compromisso com o outro.

5º setor: O que há de vir
Em decorrência do crescente debate sobre questões de gênero e identidade sexual, a arte drag caminha em direção a uma nova transformação. As definições do que é ser homem e mulher, as convenções culturais de quais elementos caracterizam cada um dos dois gêneros, são questionadas e perdem força cada dia mais. A Teoria Queer, consolidada a partir de Judith Bluter, afirma que passamos por um processo de construção social e os papéis de gênero e identidade muitas vezes não se dão de forma natural. Somos parte de uma convenção retrógrada e de interesse de uma parcela da sociedade.
Como forma de desconstruir esses tratados, o futuro participará do movimento contrassexual proposto por Paul Beatriz Preciado. A sociedade abandonará seus binarismos e assumirá a condição do corpo humano como máquina/dispositivo. Um ser não-binário surge em potência para se apropriar do mundo em sua completude. No futuro, um tempo que não podemos nomear, a sociedade será híbrida. A drag carregará em seu próprio corpo a visualidade de uma nova espécie. Um ser camaleônico, tecnológico, disforme.
A drag já não se assemelha mais ao feminino, mas à sua própria identidade. Como no método intuitivo proposto por Henri Bergson, a drag visita seu próprio eu, o lugar mais profundo de sua alma, para buscar sua verdadeira expressão. E na volta dessa descoberta, materializa em seu corpo, seu próprio casulo, a imagem de um novo ser. O corpo dessa nova drag é um casulo que abriga uma vida em transformação contínua, mas ao mesmo tempo funciona como superfície para que sua arte transborde para o mundo. Sociedade fluida, arte fluida, drag fluida. Nada limita, tudo transita.


Latrice Royale

1º setor: A origem clássica

Comissão de frente - Borboleta no Teatro Elisabetano
            Com trajes luxuosos e opulentos, a comissão de frente saúda o público vestida de EIlizabeth I de Inglaterra, a rainha que reinou no período do teatro elisabetano, que ficou conhecido pela peças de, entre outros autores, William Shakespeare. A origem do termo “drag” que as mesmas mais se orgulham data dessa época. Então, 13 componentes do sexo masculino estão fantasiados com indumentária similar à da rainha, um homem representa Julieta, uma das personagens mais emblemáticas de Shakespeare, e por último outro representa o próprio autor. Ambos dançam como se apresentassem uma peça teatral. Na coreografia, Shakespeare lança Julieta, que começa a bater cabelo e requebrar. Com o auxílio do autor, retira o traje de menina clássica e revela uma roupa de drag contemporânea, com muito paetê e purpurina. No clímax, ela abre asas de borboleta e segue rumo ao abre alas, com o impulso de Shakespeare. Os outros componentes de rainha batem cabelo, finalizando a apresentação.

Alegoria 1 - DRAG - “Vestido como garota”
            O primeiro carro alegórico da escola representa o teatro elisabetano, mas de uma maneira estilizada. Os palcos elisabetanos foram os locais onde as primeiras “drags” se apresentaram. Na arquitetura do carro, é colocado um recorte do que era o teatro. Um grande palco circular à frente é o primeiro chassi, onde há uma encenação da peça “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Os personagens vestem-se de maneira clássica, mas em uma marcação do samba, retiram o figurino que esconde uma fantasia estilizada. Na parte traseira do palco há o cenário, de tamanho médio. No segundo chassi, há as bancadas para as plateias nas laterais, enquanto no meio há a escultura de uma drag clássica-estilizada. As composições vestem trajes da época, mas com um pouco mais de brilho e cor. A ala das crianças vem no carro vestida de Borboleta, o símbolo da escola, misturada entre os nobres da época. A escala cromática é em tons pastéis, inspirada nas construções da época, com detalhes em neon. No geral, a alegoria é um teatro elisabetano com elementos que remetem às casas noturnas contemporâneas, que são o palco mais frequente das apresentações drags atualmente. 



2º setor: Nos palcos da modernidade

Ala 1 - Exacerbadamente burlesca
Com a possibilidade das mulheres interpretarem papéis no teatro, a função “drag”, quando o homem se vestia de mulher para atuar como uma, perdeu a utilidade. Com isso, a categoria precisou se reinventar. Os atores deram um tom caricato para as suas personagens drags. Exarcebaram o tom feminino, com caracterizações próximas do grotesco. Era um show de humor, onde a drag burlesca satirizava mulheres da vida real. Na fantasia, um grande ninho de palha como peruca, mas no lugar do pássaro há um rolo de amassar pão. A maquiagem é exagerada, o vestido espalhafatoso, com um avental e chinelo. Como adereço de mão, um grande sorriso. A fantasia é nas cores da escola em tons pastéis, azul e rosa.

Ala 2 - A dama comediante
A drag se transformou em um tipo de personagem comum na cartela de opções de um comediante. A paródia caricata da vida real era de grande sucesso no teatro, e os atores responsáveis pelo show não eram necessariamente homossexuais. Até então, eram coisas que não se cruzavam. Ser drag era uma profissão teatral, sem outros fins políticos. Na fantasia, a máscara da comédia está do lado direito do componente, de tamanho médio na ombreira. Dela, saem cortinas de teatro, decoradas com flores no rodapé, que se misturam com o vestido longo de mesma característica. O chapéu é um típico da década de 20, de maneira mais extravagante.

Ala 3 -  Eu vou pro baile, mona
Com o tempo, foram surgindo bailes onde os homens iam vestidos de mulher. Chamados de “Pansy Craze”, foram a oportunidade para a drag ganhar um espaço além do teatral/profissional. As festas eram uma oportunidade para os homens se caracterizarem de mulher apenas com o intuito de se divertirem, como um hobbie. As drags se montavam por satisfação pessoal. A fantasia remonta o padrão drag da época, que exigia cada vez mais luxo em suas peças. Um vestido rodado de festa, um pouco abaixo do joelho, de onde saem globos de espelho e notas de mil-réis, que era a moeda da época. Na mão, um leque, que se tornou um adereço símbolo da drag, com notas de mil-réis. Fantasia em dourado, a cor da riqueza.

Ala 4 - A drag é gay
Em decorrência dos pansy craze, a drag se aproximou do público homossexual. Um homem vestir-se de mulher ganhou um apelo sexual, saindo do campo do teatro e ganhando o espaço da vida. Nesse período, a palavra “gay” já era utilizada para designar um homem que mantinha relações sexuais com outro, perdendo em parte o significado que carregava antes: “alegre”. Assim, ser drag era ser gay, em ambos os sentidos. A ala é coreografada e é composta por casais gays. Em determinado momento, eles dão um beijaço na avenida. A fantasia é mais masculinizada, com bermuda e camisa de paetê. No costeiro, um coração com plumas e uma capa, ambos coloridos. A cromática segue em tons pastéis.

Ala 5 - Fora dos palcos, só coió e xoxação
Por volta dos anos 40 e 50, a televisão e o cinema eram as grandes novidades que atraíam o público que buscava entretenimento. Com isso, o teatro foi perdendo seu espaço e plateia, fato que ocasionou o declínio de muitas drags. Além disso, a crescente repressão policial e social contra o público gay fez o show drag ser desvalorizado.Coió e xoxação são expressões atuais que significam ser agredido e humilhado. Na fantasia, o chapéu representa uma televisão, como se ela tivesse caído na cabeça do componente. A roupa é uma calça e blusão batidos, com aspecto velho e rasgado. No peitoral, uma placa de desempregada. As cores tendem ao bege, salmão e vinho. 

Alegoria 2 - Meia-luz nos bares marginalizados
Mesmo com a onda anti-homossexualidade, o show e a arte não podiam parar. As drags encontraram uma maneira de manter vivo o ato de se montar e performar. Como não podiam mais ocupar os holofotes principais da cidade, passaram a se apresentar em bares marginalizados, longe do conservadorismo da sociedade. Sem chamar muita atenção, a categoria continuou em evolução. A alegoria representa essa passagem, e traz um bar pouco luxuoso e com iluminação fraca. Na frente, uma fachada discreta e monótona. Logo após, uma arquitetura que vai ficando mais alta do meio para o final, com lâmpadas apagadas e incandescentes. Uma pista de dança, mesas e bares compõe a cena. As composições variam entre drags e garçons sexy. No alto da alegoria, um destaque representa a arte em meia luz.




3º setor: Brilhante e pós-moderna!

Ala 6 -  Boom da Pop Art
Na década de 1960 o movimento artístico Pop Art, originalmente inglês, alcançou visibilidade nos EUA. Foi uma escola que procurava a estética das massas, com reproduções de objetos cotidianos e muito colorido. Um dos principais artistas do movimento é Andy Warhol. Acredita-se que é o marco da inauguração do pós-modernismo na cultura ocidental. A ala é dividida em 6 grupos verticais com fantasias iguais em forma e diferentes em cor. Representam a obra com a imagem de Marilyn Monroe, uma das mais conhecidas de Warhol. Diversos elementos populares compõe o costeiro e o peitoral.

Ala 7 - Arte performática
A arte performática também se consolidou após a década de 60 e é vista como uma arte libertadora. É um tipo de arte efêmera que lida principalmente com o corpo e com a relação com o outro. Um dos objetivos, entre outros, é provocar o observador. Uma das artistas mais conhecidas é Marina Abramovic. A fantasia é inspirada em uma das primeiras performances que ela apresentou, nos anos 70, chamada “Brincadeiras com facas”. A roupa é uma bata grande, toda branca, com algumas facas penduradas. Como adereço de mão, um facão. No costeiro e no chapéu, diferentes tipos e tamanhos de facas.  

1º Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira - “Prazer, eu sou arte!”
Com a expansão do entendimento sobre o que é arte, em parte graças à Pop Art, a drag pôde se auto-dominar como artista. Indo além, pôde ser considerada como um trabalho de arte em si, onde o corpo é utilizado como superfície. Foi um retorno triunfal à cena popular, ganhando um status ainda mais importante do que o anterior. Surgiu um orgulho por ser drag. Esses fatos se materializam na fantasia do casal de mestre-sala e porta-bandeira.
O mestre-sala simboliza a cultura de massa, o próprio povo que deu visibilidade à arte drag. Veste um traje com pedrarias multicoloridas e estampa de objetos cotidianos. A porta-bandeira é a própria arte que rompe a tela e salta para fora. O corpo está dentro da tela, que fica em perspectiva diagonal na altura da cintura. A saia leva quadros da Pop Art com maquiagem drag. Da cintura para cima, usa o traje típico de uma drag dos anos 70. A cromática é variada.

Ala 8 (Bateria)- Revolta das bee!
A partir do lugar reconquistado na sociedade, a drag pôde assumir uma posição política e social mais ativa, lutando contra a onda conservadora e homofóbica que afastou a categoria da sociedade. As drags utilizaram seu lugar de fala para clamar contra a violência e repressão, pela valorização do ser humano e de seus direitos, pela aceitação dos homossexuais. Em 1978, o artista Gilbert Baker projetou a bandeira arco-íris, que passou a ser levantada pelo público gay como manifesto. A fantasia é inspirada na abelha, que em inglês é “bee”, mas que se tornou uma gíria gay para chamar outro gay. O corpo carrega as seis cores da bandeira, enquanto as asas são espelhadas.

Destaque - Busca por direitos
O destaque simboliza a busca por direitos e aceitação que o público gay protagonizava em uma época de revolução ideológica e social. A fantasia é em tons de vermelho e tem corações derretendo, representando ao mesmo tempo o amor e o sangue (da violência).

Ala 9 - Luta contra a censura
Durante a ditadura militar brasileira, diversos artistas de todas as áreas foram censurados pelo poder vigente. O grupo performático de teatro Dzi Croquettes foi um dos precursores da arte drag no Brasil e em plena ditadura desafiou o sistema em apresentações marcadas pela ousadia e transgressão. Homens sem a intenção de feminilizar o corpo, deixando músculos e pelos aparentes, vestiam roupas de mulher e dançavam de salto alto problematizando questões sociais da época. O grupo foi censurado e precisou ir para fora do país, mas deixou seu legado e conquistas. A ala cênica é formado exclusivamente por homens que usam uma calcinha nas cores do Brasil. Nas mãos, uma algema quebrada e uma mordaça rasgada. Pedaços de tecidos pendurados representam o rompimento. Ala em escala de cinza com detalhes nas cores do Brasil.

Alegoria 3 - Dzi Croquettes, purpurina em forma de revolução
O grupo performático de teatro e dança se destacava pela maquiagem abundante, trajes femininos e visual extravagante. Dzi Croquettes chocou o regime militar por se apresentar de uma maneira dita como “vulgar”, “promíscua”. Mas ao mesmo tempo, embora a curta trajetória, inspirou outros grupos e movimentos a lutar contra o preconceito, despindo-se do falso moralismo e aceitando as diferenças. A atitude revolucionária do grupo estava muito à frente do seu tempo, e trazia uma arte drag que só foi vista muitos anos depois. Independente disso, abriram caminhos para futuramente as drags se popularizarem no Brasil, como já eram no restante do mundo. Na parte frontal da alegoria, uma encenação das drags revolucionárias inspiradas pelo Dzi em conflito com os militares, em um cenário de rua. Atrás, dois canhões de guerra  que jogam purpurina estão sobre um palco de teatro. Em cima deles, grandes esculturas dos integrantes do grupo original. O destaque no alto representa a arte revolucionária. As cores transitam entre a escala de cinza, as cores do Brasil e o rosa neon.


4º setor: Closes contemporâneos

Ala 10 - Close, babado e confusão
Em mais um ato de transmutação, a drag trilha o sucesso em um novo espaço. A criação de expressões próprias, de ditar tendência e se tornar assunto, a consolidou na sociedade. Ser drag é “dar close”; e dar close é ter atitude, personalidade própria. No campo musical, a categoria lança letras de fácil identificação com o público, ocasionando a propagação como hit, ou “hino”, na linguagem LGBT. A drag causa confusão no melhor sentido da palavra. É um acontecimento de empoderamento. A fantasia é um vestido brilhante de paetê azul, com um microfone de adereço de mão. No costeiro, peitoral e chapéu, tiras com composições contemporâneas escritas e luzes de led. (Inspiração da ala: Close Baby - As Baphônicas)

Ala 11 (Passistas) - Sou todo dia
A drag como cantora se transformou em um ícone diário. Não faz mais apresentações casuais, ela está presente na mídia e na rede todo dia; interagindo com o público, fãs, seguidores; lançando, publicando, divulgando material; levantando a bandeira por questões político-sociais que atingem o público não-heterossexual; entre outras coisas. A drag criou uma identidade com o povo brasileiro. É uma arte popular. Como diz trecho da música “Todo dia” da drag Pabllo Vittar, o videoclipe de música original de drag com mais visualizações no Youtube do mundo, “Eu não espero o carnaval chegar pra ser vadia, sou todo dia”, onde o termo que antes poderia soar pejorativo, é usado como forma de empoderamento. A fantasia das passistas é um maiô bem cavado e decotado, com uma meia arrastão e bota longa. Todos os elementos têm estampa floral, num clima tropical. Uma peruca alta e longa, esvoaçante. As passistas levam um adereço de mão de picolé de brigadeiro, que tem um celular no meio. (Inspiração da ala: Todo dia - Pabllo Vittar part. Rico Dalasam)

Ala 12 - A dona que se fez respeitada
Em um primeiro momento, a televisão foi uma das principais responsáveis pela saída da drag do mercado midiático. Entretanto, não demorou muito tempo para que ela se reinventasse e conquistasse seu espaço nesse meio. A arte musical em conjunto com a arte da caracterização, aliadas à expressividade e relevância social da drag, são fatores principais para que a TV queira colocá-la em sua programação diária. A drag garantiu seu respeito, uma das principais lutas da categoria desde sempre. A fantasia é suntuosa como a de uma imperatriz, com coroa e cetro. A ombreira e peitoral formam uma televisão de lcd, onde a cabeça do componente está centralizada. As cores variam entre o prata, dourado e vinho, com momentos multicoloridos no rosto. (Inspiração da ala: Império - Gloria Groove)

Ala 13 (Baianas) - Aceita, somos gostosas
O fenótipo da drag é plural. Não existe uma padrão de beleza, de voz ou de atitude. O cenário musical abre espaço para todas, e o público prestigia uma diversidade louvável de estilos e performatividades. O talento é a única essência capaz de unir todas as drags que se lançam nesse mercado. E todas elas exigem e merecem respeito, independente da aparência. São todas gostosas! A fantasia das baianas é inspirada no figurino da Mulher Pepita, drag que ficou conhecida principalmente pelos comentários preconceituosos sobre seu corpo musculoso. Contudo, ela provou que não era apenas um corpo e conquistou o público, principalmente LGBT, com seu talento e carisma. A saia é de babados, rementendo ao tradicional, mas na parte superior tem seios e barriga em látex, como se fossem da artista. Na peruca, dois chifres médios. A fantasia varia entre azul e rosa. (Inspiração da ala: Chifrudo - Lia Clark part. Mulher Pepita)

Ala 14 - Consumação não paga peruca!
Como em outras áreas da arte, muitas vezes a música não tem a valorização merecida. O artista sofre frequentemente com dizeres que os aplausos e reconhecimento do público são os melhores pagamentos. Porém, o dinheiro é necessário para a continuidade da carreira, para mantimentos e investimentos. A drag passa pelo problema de receber o cachê em consumação, o livre acesso a bebidas na balada onde faz show. Entretanto, esse método não é lucrativo e não incentiva a arte. Não valoriza o trabalho. E, como diz a música da drag Gloria Groove, consumação não paga peruca. Na fantasia, uma peruca de garrafas de bebida com fitas no gargalo, como se estivesse derramando, e uma bolsa com garrafas vazias. A roupa é uma meia arrastão e um vestido espelhado. Como adereço de mão, uma peruca enorme com etiquetas com cifrões e notas de real. Ala de tons escuros, azul, verde e preto. (Inspiração da ala: Dona - Gloria Groove)

Alegoria 4 - Drag music, a nova canção
Atualmente, a mídia é o principal palco da arte drag. Isso é primordial para a realização e sucesso das carreiras musicais que se tornam cada vez mais populares. A diversidade de gêneros, expressões e conteúdos é uma das responsáveis por tanta assimilação social. Além disso, as redes sociais desempenham um papel de extrema importância na divulgação dos trabalhos das drags. Seja pela linguagem dos memes, seja pelo compartilhamento de material, as conexões virtuais são o que auxiliam a comercialização da marca de uma drag. Na alegoria, um celular de tamanho grande fica à frente, de onde saem partituras musicais coloridas e piscantes que percorrem toda a extensão do chassi. Um destaque fica sobre o celular, representando as conexões virtuais. A arquitetura da alegoria remete a uma balada tecnológica, com esculturas de drags conhecidas no mercado musical. Drags cantoras convidadas estão presentes no carro. As composições representam as mídias. Ao fundo, um telão de led passa cenas de videoclipes de cantoras drag. A cromática é tecnológica.


Lia Clark e Mulher Pepita em “Chifrudo”
5º setor: O que há de vir

Ala 15 - Movimento contrassexual
A Teoria Queer tem grande tendência em se tornar um pensamento geral na sociedade futura, quando as mentes fechadas, alienadas e conservadoras não forem mais a maioria. Ela é o ponto de partida para a desconstrução proposta por Paul Preciado em seu manifesto contrassexual. Finalmente a cultura de construção de papéis de gênero desde a gestação será transformada em um processo natural de identificação do ser. O ser humano encontrará um novo caminho de formação de opinião e aparência, que terá como pioneiras as drags visionárias que defendem essa tese. A fantasia representa algo orgânico e natural emergindo de ruínas arquitetônicas. O componente tem partes do corpo à mostra e possui folhas e raízes entrelaçadas pelo torso, membros e cabeça. Na base, uma ruína de arquiteturas e símbolos do gênero masculino e feminino. Como adereço de mão, um estandarte com o manifesto contrassexual escrito. Cromática entre o verde, azul e marrom.

Ala 16 - Corpo como novo dispositivo
Ainda dentro do manifesto contrassexual, Preciado defende a ideia de que nosso corpo é um dispositivo tecnológico que podemos escolher funções e delegar tarefas. Como as máquinas criadas pelo próprio ser humano, ele também é uma máquina criada pela natureza. O corpo humano tem propriedades que somos privados de conhecer devido a acordos preestabelecidos que são paradigmas que se quer pensamos em questionar. No futuro, a drag será a responsável por romper com esse silêncio. A arte drag é capaz de utilizar o corpo para novas funções, expandindo-o, alastrando-o. A fantasia simila um ciborgue drag, para dar a ideia de um ser tecnológico. A roupa é revestida de led e estruturas mecânicas, em forma de vestido volumoso. Na cabeça, uma peruca misturada em fios e fitas. Formas de dildos estão presentes em toda a fantasia. Ala em tons de prata, azul e rosa e o led colorido.

Ala 17 - Hibridismo corporal
Um ser híbrido surge a partir do cruzamento de diferentes raças, espécies ou gêneros. É a junção de variedades distintas em uma nova. A drag, como ser criado, caminha em direção a um processo de hibridismo que está no futuro. O corpo como dispositivo mescla diferentes espécies, reais ou surreais, humanas ou não, na caracterização da drag. É um ser que não é homem, nem mulher. Algo não nomeado, mas certamente não-binário. A fantasia mescla as duas noções de gênero que a sociedade tem. O componente usa uma barba e bigode, maquiagem, brincos, próteses de silicone, cueca, meião de futebol com salto alto. A roupa em geral é plurisex, ou seja, sem marca de gênero, e mantém a característica de dispositivo tecnológico da ala anterior. O costeiro leva o símbolo trans, pois esse prefixo significa algo que vai além. Fantasia em tons de azul, rosa e branco.

Ala 18 - O que vem da intuição
A intuição é o “eu profundo” do ser humano. O método intuitivo, proposto pelo filósofo francês Henri Bergson, é essencialmente interior, pois a intuição “é a visão direta do espírito pelo espírito”. Na caracterização drag, a intuição é um recurso muito utilizado na escolha de materiais, cores, texturas. Contudo, a racionalidade ainda priva certas escolhas. Para o futuro, a drag viajará aos seus sentimentos interpenetrados em busca da sua própria identidade. E no retorno, irá representar na íntegra a sua imagem. Algo além do corpo, um ser inédito. Essa é uma ala especial, onde a fantasia será elaborada de uma maneira intuitiva. Os componentes selecionados terão contato individualmente com os materiais e irão imaginar uma fantasia com eles, da maneira a representar sua própria identidade. Portanto, na avenida cada um estará vestido a sua maneira. O único ponto comum será um adereço de mão representando a digital do polegar. É uma ala colorida, com predominância do azul e rosa.

Ala 19 - Transformação fluida da alma
Como abordado desde o início, o corpo da drag é como um casulo que abriga uma vida em transformação contínua, e que ao mesmo tempo serve como superfície de expressão da mesma. A drag se reinventa a cada nova aparição, e mesmo quando possui uma marca fixa de caracterização, ela surpreende pela criatividade advinda do amadurecimento pessoal e profissional. Um exemplo de drag intuitiva é a Alma Negrot, que trabalha com caracterização e performance. A fantasia dessa ala é a carnavalização dessa metáfora. O componente veste um bolsão da cintura pra baixo, que esconde os pés. O bolsão tem bordas que vazam como uma flor. Para cima, saem formas fluidas que envolvem o componente. O chapéu também possui essas formas. O corpo do componente é todo maquiado de maneira intuitiva, com muita cor. A fantasia apresenta vários tons de rosa.

Alegoria 5 - A visualidade de um novo ser: a constante transformação
Ao longo de sua história, a drag passou por diversas transformações. Algumas se deram de maneira natural, enquanto outras sofreram interferência de agentes externos. O fato é que todos esses processos construíram o passado que levou a drag ao patamar que está hoje. Em paralelo a isso, o ser humano também passa por sua evolução. A sociedade muda, os conceitos mudam, o universo muda. Todas essas mudanças interferem no processo criativo da drag, que utiliza a sua arte para dialogar com o mundo. Não é possível apontar com certeza qual é a imagem do futuro, mas podemos deduzir, intuir. A intuição é o caminho que as drags estão seguindo para esse tempo que há de vir, e essa visualidade que está em processo de experimentação é capaz de materializar a transformação da drag. É a sua essência. O carro alegórico é formado por uma grande cabeça/rosto que ocupa toda a sua extensão. Nas laterais há os queijos para composições. O carro recebe uma pintura abstrata como base e depois recebe a decoração de maneira intuitiva por pessoas da comunidade. Após, são aplicados alguns tecidos que componentes ficam movimentando, dando uma ideia de fluidez. À frente, há o destaque representando o método intuitivo. As composições laterais representam a constante transformação e movimentam tecidos esvoaçantes. Em geral, a imagem formada é uma drag maquiada com a visualidade do futuro. Não há uma cromática definida. 

Ala 20 (Velha guarda) - Sociedade fluida
A velha guarda vem representando essa sociedade do futuro, que terá mente aberta e respeitará plenamente as diferenças. Seres humanos fluidos, sem as amarras do conservadorismo. O traje se assemelha ao tradicional, mas possui formas fluidas e coloridas estampadas.

Alma Negrot


            Livros:
            ABRANTES, Samuel. Samíle Cunha transconexões memórias e heterodoxia. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2014, 160p.
            PRECIADO, Beatriz. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. Tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: N­-1 edições, 2014, 224 p.

            Sites:

Videoclipes:

Gloria Groove em “Império”

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